Estávamos em quatro pessoas conversando no
trilho do trem, quando de repente escutamos seu dono vindo. Aquela máquina furiosa gritava
anunciando sua chegada e, enquanto passava por nós, contagiava-nos com suas
escritas de paz e preservação e com a ventania que emanava em nossos rostos
descobertos.
Diante dessa cena o Paulo levantou para
alcançar o trem. Quando percebi, ele já estava em cima do vagão correndo na
contra mão, pulando para o próximo. Foi muito louco ver isso! Um cara correndo
na direção contrária do trem e pulando os vãos que apareciam numa velocidade
impressionante. Imaginei a determinação, o desespero, a adrenalina e a liberdade
correndo em suas veias enquanto o vento o batia querendo derrubá-lo... Foi
então quando ele cansou e parou.
Só podíamos ver um cara parado em cima do
trem se distanciando num vulto até desaparecer na curva. Sabíamos que voltaria.
As pessoas sempre voltam. Foi então que ele reapareceu. Contou sobre os velhos
tempos de surf em cima do trem, sobre a sensação do prazer que o proibido
oferece. Como se fosse um tapa na cara da sociedade! –Eu não posso, não
deveria, mas... por que não?
Acredito que o trem é como se fosse a
sociedade e, os considerados “loucos” quisessem
alcançar o fim dele para que, assim, possam chegar a tão almejada
liberdade plena. Porém, sempre há um ponto que se cansa e para. Mas isso não
quer dizer que não se deva tentar novamente. Jamais! Mesmo sabendo que é pouco
provável alcançá-la, a sensação libertadora desse curto momento de ir contra o
sentido imposto, vale a pena. E muito!
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