Quando tudo começou foi lindo, mágico, devastador e intenso.
Tenho certeza que isso a assustou, pois todos nós nos assustamos com nossos
próprios sentimentos. Acontece que ela deixou-se dominar pelo medo, afastando
quem já a amava, em tão pouco tempo, mas um amor puro e verdadeiro. Aqueles
amores que nós pensamos nunca encontrar, mas que quando o encontramos o
afastamos por medo dele.
Seguiram por um tempo com isso, visto que ela iria embora e,
talvez quando voltasse, quem a amava não estaria mais a esperando. Então curtiram
os bons momentos, riram, dançaram, correram e brincaram. Deixaram aparecer a
criança escondida em cada ser. Tudo isso por um sentimento. Mas, da parte dela,
achava melhor manter uma certa distância. A gente nunca sabe quando a dor pode
nos devastar. Engraçado que nos devasta mesmo tomando todo os cuidados.
O amor reprimido floresceu quando ela chegou à um lugar
longe de todos que a amavam, o amor que ela sentia por quem ela quis manter uma
distância segura para não sofrer novamente. Mas o que não sabia ela, era que o
medo do amor machuca muito mais que o amor em si. Nunca ouvi ninguém se
lamentando por ter sido amado, por mais que este traga algumas dores, o medo do
amor, independente da parte de quem, é que realmente machuca. Feriu sua alma
com uma certa amargura da humanidade, por conta daqueles que a fizeram sofrer.
Mesmo com o amor a flor da pele, a distância estabelecida
agora se concretizava em quilômetros, não conseguia se entregar com totalidade.
Tinha dias que estava disposta a amar e ser amada, mas tinha dias que tinha
medo desse sentimento tão tumultuoso que a tirava da razão, que nos tira dela. Esse
receio trouxe dor, não só para ela, mas também para quem a amava. O pior de se
esperar alguém, é a incerteza de saber se se está esperando em vão. As incertezas
nos fazem tomar decisões precipitas e muitas vezes inconsequentes, foi isso o
que quem sempre a amou fez: precipitou-se e a magoou. Mas o que não sabia é que
a magoando magoaria-se profundamente também. Porém, é que sem perceber, isso
foi o tudo ou nada. Ela resolveu receber o amor, mas com muito mais medo dele. Então
se magoava e magoava quem a amava muito mais. Acontece que a mágoa é
exaustiva. Ninguém a suporta por muito
tempo. Mesmo com todo o amor do mundo.
Continuaram se amando, se odiando, se magoando e se apoiando
pelo celular. Ah! A tecnologia! Cada qual em seu canto sem saber realmente o
que seu amor passava, acabava por tirar conclusões, muitas vezes errôneas, e
magoar-se. Muitos momentos bons, muitas promessas, muitas juras de amor. Mas o
medo, sempre sorrateiro, rondando esse sentimento que sentiam.
O tempo passa, e como é de se esperar de um amor que nunca
se vê, a solidão o acompanhou, acompanhada da solidão, veio a carência,
acompanhada da carência, as incertezas, acompanhada das incertezas, vieram as
brigas, acompanhada das brigas, muito mais dor do que qualquer ser humano, que
ama, pode aguentar. Quem sempre a amou, começou a questionar-se o porquê de
tudo aquilo. Por que se magoar tanto. Por que brigar tanto. Por que continuar
com algo que não se tem certeza no que vai dar.
Amor e ódio, vida e morte, confiança e ciúme, palavras doces
e amargas, certeza e realidade...
Tudo isso em dois seres. Dois seres que abdicaram de tudo em
nome de um amor que não se toca. Trocaram noitadas por conversas ao telefone,
cinema por uma imagem no computador, um amigo por mensagens no celular, tranquilidade da vida pacata por um amor louco
e incerto. Para que no final das contas descobrissem que o que tinham era uma
relação incomum... com seus próprios celulares.