domingo, 6 de maio de 2012

Não se deixe enganar pelo sorriso


Quando a conheci estava tão triste que não pude perceber. Ela apareceu com aquele sorriso branco, me prometendo que tudo ficaria melhor, e, realmente, isso aconteceu. Saímos juntas, badalamos, rimos e brindamos, como se já nos conhecêssemos há anos.
Ela era tão boa para mim que cheguei, inclusive, a brigar com meus amigos. Estava cega e encantada com sua presença. Toda vez que estava com ela, me sentia viva. Toda vez que nos encontrávamos era divertimento na certa. Ria como se não houvesse o amanhã. Mas o amanhã sempre vinha e com ele a ausência dela. Então aquele vazio perturbador voltava e eu ficava pior do que eu estava antes de conhecê-la.
Os dias eram longos e depressivos e custavam a passar. Eu chorava por motivos que eu desconhecia. Tudo era triste e vazio. A vida não tinha mais graça. Foi assim que decidi fazer dela minha parceira! Aonde eu ia leva-a comigo e tudo começou a ficar bem novamente. Ela apresentou-me para seus amigos, que, assim como eu, também a admiravam e necessitavam da sua presença.
Em consequência desse novo circulo social fui deixando meus antigos, e verdadeiros, amigos. Estava sempre ocupada com ela, sempre tínhamos algo divertido para fazer ou algum lugar badalado para ir. Ela era demais! Tudo o que eu queria ser, eu era quando estava com ela. Tudo o que eu imaginava que era impossível se tornava possível com sua presença.
Além de ela fazer-me sentir viva, fazia-me sentir capaz e o mundo se tornava melhor. Ah, como ela era boa para mim! Mas ela tomava todo meu tempo e sugava todas minhas energias. Comecei a não cumprir minhas obrigações, queria sempre mais divertimento ao seu lado, e foi quando tudo começou a piorar.
Ao perceber isso tentei me afastar, mas quanto mais eu tentava, mais ela sorria para mim, mais ela tinha a me oferecer. E essa oferta de prazer fazia com que sua ausência se tornasse terrivelmente insuportável ao ponto de quase enlouquecer. Antes disso acreditava que ela precisasse de mim, mas descobri que na verdade era eu quem precisava dela...
Então, em um dia comum, logo depois de sua partida, fechei os olhos, ainda eufórica pela sua presença, e, como num sonho, vi um anjo. Perguntei a ele sua opinião sobre minha amiga. Ele me disse que também fora amigo dela outrora, e descreveu a sensação que sentia com a sua presença como se fosse eu quem estivesse falando. Mas ele me acrescentou um porém, nas entrelinhas me contou como ela era traidora, como esse sentimento bom era avassalador e destrutivo. Como eu me tornava outra pessoa quando estava com ela.
Durante alguns minutos fiquei estática. Não queria aceitar, mas observando bem de perto, vi que tudo era verdade. Ela não era minha amiga, ela era minha inimiga, a tristeza que eu sentia na sua ausência era o que sua presença causava. Ela mostrava um mundo de mentiras e ilusão que ia embora junto com ela. Mas era tão convidativo que não pude perceber sozinha.
Agradeci ao anjo e abri os olhos. Ao fazer isso, com muita relutância, decidi me afastar. Sem dar nenhuma satisfação e nem sequer um adeus. Não me conformava como pude ser tão burra durante tanto tempo. Como pude me deixar enganar pelo sorriso. Imaginava que não poderia viver sem ela.
Mas sobrevivi e me libertei. O mundo não ficou mais fácil, mas era verdadeiro. Ao perceber isso ficava com nojo só de ouvir seu nome ou sentir seu cheiro. Fiquei com raiva de encontrá-la novamente se aproveitando de pessoas que se encontravam na mesma situação que eu antes de conhecê-la.
Infelizmente todos têm a oportunidade de se tornar seu amigo, ela não é muito seleta. E pior ainda, nem todos conversam com um anjo que já a tenha conhecido e, às vezes, quando encontram, não dão ouvidos a ele. Realmente ela é perigosa e fatal. E temo pelos que cruzam seu caminho.
Mas se quiser evitar passar por perdas, não queira conhecê-la. Seu nome é Cocaína, ela parece agradável no começo, mas só te arrastará. Isso é certo. Se quiser evitar passar por perdas, não queira conhecê-la. Não se deixe enganar pelo sorriso.

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